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01 de agosto de 2024

CRP-13 lança diretrizes sobre a utilização de termos referentes a pessoas autistas

Nota Orientativa

O Sistema Conselhos de Psicologia no Brasil tem diretrizes específicas sobre a utilização de termos referentes a pessoas com transtornos mentais e pessoas autistas, visando promover o respeito, a inclusão e a dignidade. Aqui estão algumas orientações gerais:

  1. Pessoa em primeiro lugar: Usar termos que coloquem a pessoa antes do transtorno. Por exemplo, “pessoa com transtorno mental” em vez de “doente mental” ou “pessoa com autismo” em vez de “autista”.
  1. Evitar rótulos pejorativos: Não usar termos que possam ser considerados depreciativos ou estigmatizantes. Termos como “louco”, “insano” ou “retardado” devem ser evitados.
  1. Enfatizar a singularidade: Reconhecer que cada pessoa é única e que os transtornos mentais ou o autismo podem se manifestar de maneiras muito diferentes em cada indivíduo.
  1. Promover a inclusão: Utilizar uma linguagem que promove à inclusão e evita a discriminação. Termos que destacam habilidades e potencialidades em vez de limitações são preferidos.
  1. Sensibilidade cultural e contextual: Levar em consideração o contexto cultural e social da pessoa ao utilizar qualquer terminologia.
  1. Atualização contínua: Os profissionais devem estar constantemente atualizados sobre as melhores práticas e terminologias recomendadas, já que essas podem evoluir com o tempo.

Aqui estão algumas orientações para psicólogas, psicólogos, sociedade e instituições escolares e educativas em relação aos transtornos mentais e ao transtorno do espectro autista (TEA):

  • Para Psicólogas e Psicólogos
  1. Formação e Atualização: Mantenham-se constantemente atualizados sobre as melhores práticas e as novas descobertas relacionadas aos transtornos mentais e ao TEA. Participem de cursos, workshops e congressos que abordem essas temáticas, como assessoria ao trabalho coletivo, acompanhamento ao ensino aprendizagem, compromisso ético político que favoreça a implementação das políticas públicas e defesa pela dignidade humana, o mapeamento,  articulação e parceria com outros serviços.
  1. Atendimento Humanizado: Ofereçam um atendimento baseado no respeito, na empatia e na valorização da singularidade de cada indivíduo. Escutem ativamente as necessidades e experiências dos seus pacientes.
  1. Terminologia Adequada: Usem uma linguagem inclusiva e respeitosa. Refiram-se às pessoas com transtornos mentais ou TEA colocando a pessoa em primeiro lugar (e.g., “pessoa com transtorno mental”, “pessoa com autismo”).
  1. Intervenções Baseadas em Evidências: Utilizem métodos de intervenção que tenham respaldo científico comprovado. Estejam atentos às particularidades de cada indivíduo e adaptem as intervenções às suas necessidades específicas.
  1. Apoio às Famílias: Ofereçam suporte e orientação às famílias, ajudando-as a compreender as condições dos seus entes queridos e a encontrar estratégias eficazes de apoio e convivência.
  1. Promoção da Inclusão: Trabalhem para promover a inclusão das pessoas com transtornos mentais e TEA em todas as esferas da sociedade, combatendo o preconceito e a discriminação.
  • Para a Sociedade
  1. Informação e Consciência: Busquem informar-se sobre os transtornos mentais e o TEA a partir de fontes confiáveis. A desinformação alimenta preconceitos e estigmas.
  1. Respeito e Empatia: Tratem as pessoas com transtornos mentais e TEA com o mesmo respeito e dignidade que qualquer outra pessoa. Entendam que cada indivíduo é único e pode ter capacidades e necessidades diferentes.
  1. Inclusão Social: Apoiem iniciativas que promovam a inclusão de pessoas com transtornos mentais e TEA em escolas, locais de trabalho e demais ambientes sociais. A inclusão beneficia toda a sociedade.
  1. Combate ao Preconceito: Rejeitem e denunciem qualquer forma de discriminação ou preconceito contra pessoas com transtornos mentais ou TEA. Promovam um ambiente de aceitação e acolhimento.
  1. Suporte às Famílias: Ofereçam apoio às famílias que convivem com transtornos mentais ou TEA, seja através de palavras de encorajamento, seja ajudando na busca por recursos e informações.
  1. Advocacia e Direitos: Apoiem políticas públicas e ações que garantam os direitos das pessoas com transtornos mentais e TEA. A inclusão e o respeito aos direitos humanos são fundamentais para uma sociedade justa.

Para instituições escolares e educativas

  1. Formação Continuada e Capacitação de Professores
  1. Capacitação: Contribuir para a formação continuada dos professores, ajudando-os a compreender questões de política educacional e suas implicações no trabalho docente.
  2. Encontros formativos: Organizar momentos que propiciem o processo de apropriação do conhecimento e transformação das relações sociais.
  3. Adaptação Curricular
  1. Planos Educacionais Individualizados (PEIs): Desenvolver PEIs que atendam às necessidades específicas de cada aluno com TEA, ajustando os objetivos e métodos de ensino conforme necessário.
  2. Materiais Didáticos Adequados: Fornecer materiais didáticos adaptados às diferentes formas de aprendizagem dos alunos com TEA, favorecendo a Mediação da Aprendizagem e a Inclusão Escolar.
  3. Ambiente Inclusivo
  1. Criação de Ambientes Inclusivos: criação de um ambiente inclusivo que favoreça o desenvolvimento pleno de alunos típicos e atípicos. É essencial promover uma convivência pautada no respeito e na igualdade, adequando o ambiente escolar para que todos se sintam incluídos e respeitados.
  2. Adaptação do Espaço: adaptar o ambiente escolar como o uso de espaços que tragam segurança e o apoio necessário.
  3. Ambiente de Respeito e Compreensão: Implementar práticas e políticas que garantam que todos os alunos sejam tratados com dignidade e respeito, promovendo um ambiente onde a inclusão seja parte integrante da cultura escolar.
  1. Suporte educacional
  1. Atendimento Educacional Especializado (AEE): Garantir a implementação do AEE para alunos com TEA, com o objetivo de proporcionar apoio pedagógico e auxiliar no desenvolvimento de habilidades específicas.
  2. Profissionais de Apoio: Contar com a presença do profissional de apoio que auxiliará na função de inserção no ambiente escolar, colaborando nas interações sociais e no Desenvolvimento Biopsicossocial dos alunos e oferecer suporte personalizado.
  1. Parceria com Famílias
  1. Comunicação Regular: Manter uma comunicação aberta e regular com as famílias, envolvendo-as no processo educativo e na tomada de decisões, reforçando a Relação Família-Escola.
  2. Reuniões de Pais e Mestres: Realizar reuniões periódicas para discutir o progresso do aluno e ajustar estratégias conforme necessário, promovendo a Socialização.
  1. Enfrentamento do Preconceito e Reflexão Coletiva com os atores educacionais
  1. Reflexão sobre Preconceito: Implementar programas de conscientização sobre o autismo com a comunidade escolar, abordando a temática do preconceito, promovendo reflexões sobre barreiras, promovendo a empatia e o respeito, enfrentando Preconceitos na Escola.
  2. Programas de Conscientização e atividades inclusivas: implementar programas que promovam a compreensão histórico-social do significado da deficiência, preconceito e práticas excludentes. Organizar atividades e eventos que promovam a inclusão.
  1. Acompanhamento e Análise
  1. Acompanhamento de Estudantes: Realizar o acompanhamento de estudantes visando à inclusão e permanência com qualidade de todos e todas no contexto escolar.
  2. Articulação de Serviços: Participar na articulação de serviços para o atendimento do estudante com deficiência, na busca da garantia de seu direito à educação, saúde e assistência social.
  3. Planejamento Educacional: Construir planejamento educacional para estudantes com TEA, refletindo sobre o Processo de Ensino-Aprendizagem.
  1. Compromisso com a Educação Democrática
  2. Escola Participativa: Trabalhar por uma escola democrática e de qualidade implicando a participação de todos os atores educacionais, garantindo direitos de cidadania a crianças, jovens e profissionais da educação.
  1. Terminologia Adequada: Utilizar termos respeitosos e inclusivos ao se referir a pessoas com autismo, promovendo a dignidade e o respeito. 
  1. Políticas e Legislação
  1. Cumprimento de Leis: Assegurar que as políticas escolares estejam alinhadas com as legislações vigentes que garantem os direitos das pessoas com deficiência, como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI).
  2. Incentivo à Inclusão: Desenvolver políticas escolares que incentivem a inclusão e proporcionem os recursos necessários para a implementação efetiva das práticas inclusivas.

Implementando essas ações, as escolas públicas podem criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor para alunos com autismo, promovendo seu desenvolvimento acadêmico e social de maneira eficaz.

Essas orientações ajudam a assegurar que a comunicação seja respeitosa e adequada, promovendo a dignidade e os direitos das pessoas com transtornos mentais e pessoas autistas.

É fundamental que tanto os profissionais de psicologia, da educação e sociedade em geral adotem uma postura de respeito, empatia e inclusão em relação às pessoas com transtornos mentais e TEA. Somente assim será possível construir uma sociedade mais justa e acolhedora para todos.

Referências

Autismo (TEA). Ministério da Saúde. Brasília, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf

AUTISMO E REALIDADE. Berenice Piana: um marco nos direitos dos autistas. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2020/03/30/berenice-piana-um-marco-nos-direitos-dosautistas/

JORGE, Maria Salete Bessa, FILHO, Carlos Garcia, ROCHA, Davi Queiroz de Carvalho (Orgs.).Liga acadêmica de psiquiatria e saúde mental: concepções e marcos conceituais na produção do conhecimento [livro eletrônico] – Fortaleza: EdUECE, 2016.

Lei Federal nº 12.764/2012: Lei Berenice Piana Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A partir desta lei, o TEA passa a ser reconhecido como deficiência, garantindo aos autistas muitos direitos.

Lei Federal nº 13.146/2015: Lei Brasileira de Inclusão – LBI ou Estatuto da Pessoa com Deficiência: Garante às pessoas com deficiência o exercício pleno de sua cidadania, promovendo condições de igualdade, exercícios de direitos e liberdades, visando à inclusão social. 

Lei nº 8.742/1993: Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) Garante o Benefício da Prestação Continuada (BPC).

Resolução CNE/CEB nº 2/2001, de 11 de setembro de 2001 – Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.